Vivemos no terceiro milênio onde a palavra chave é a INCLUSÃO, mas no dia a dia não é bem isto que vem acontecendo, o discurso é muito bonito, no entanto na prática salta aos nossos olhos a dualidade e a SEPARAÇÃO: Homem e mulher, chefe e subordinado, racional e espiritual, novo e velho, monge e executivo, ócio e negócio, amor e dinheiro. Neste instante me vem à lembrança um trecho da música do Belchior “...E no escritório onde trabalho e fico rico, quanto mais eu multiplico, diminui o meu amor!”
Neste mundo de dualidade e muitas contradições a cansada e desiludida professora foi aos poucos desistindo de opinar e sugerir idéias na escola onde trabalha. Acomodou-se na rotina do dia a dia e resolveu agir como tantos outros profissionais, passou simplesmente a esperar o tempo passar para que pudesse se aposentar. O que levou esta professora a adotar esta postura defensiva e retraída quanto à sugestão de novas idéias e opiniões?
Refletindo sobre os tópicos abordados no livro “O Monge e o Executivo” pude encontrar algumas respostas.
“O verdadeiro compromisso envolve crescimento do indivíduo e do grupo, juntamente com o aperfeiçoamento constante. O líder comprometido dedica-se ao crescimento e aperfeiçoamento de seus liderados. Ao pedirmos às pessoas que lideramos que se tornem o melhor que puderem, que se esforcem no sentido de se aperfeiçoarem sempre, devemos também demonstrar que nós, como líderes, estaremos também empenhados em crescer e nos tornarmos o melhor que pudermos. Isso requer compromisso, paixão, investimento nos liderados e clareza por parte do líder a respeito do que ele pretende conseguir do grupo”.
Alguns executivos estão presos a conceitos do antigo chefe, são resistentes à mudança, inseguros e pensam que cabe aos seus colaboradores a atitude de servir e a ele, o “chefe” a responsabilidade de liderar. Por este motivo acabam muitas vezes se fechando às opiniões e idéias que vem de seus colaboradores, pois imaginam que eles não têm preparo para oferecer boas sugestões.
Agora ficam mais claros os motivos que levaram a professora a desanimar quanto à sugestão de novas idéias. Faltou estímulo, houve resistências às mudanças por parte da direção da escola e principalmente os líderes não estavam dispostos a ouvi-la. Fica claro também que é sempre necessária uma liderança para empreender novos projetos e os verdadeiros líderes não são aqueles que impõem uma idéia, mas sim os que convencem os demais e os motiva a participar com vontade, disposição e garra desse novo trabalho ao deixarem bem claro que o objetivo final é o bem comum. O verdadeiro líder tem a habilidade de influenciar as pessoas para trabalharem entusiasticamente visando atingir os objetivos.
“A real capacidade de liderança não fala da personalidade do líder, de suas posses ou carisma, mas fala de quem ele é como pessoa. Liderança e amor são questões ligadas ao caráter. Paciência, bondade, humildade, abnegação, respeito, generosidade, honestidade, compromisso. Estas são as qualidades construtoras do caráter, são os hábitos que precisamos desenvolver e amadurecer...”
Em o Monge e o Executivo aprendemos que este conceito de liderança é tão antigo quanto à própria humanidade e que suas definições se tornaram mais claras a partir da ação de Jesus Cristo. Seus pronunciamentos em favor do “Amor ao próximo” são bem aplicados no livro e superam o conhecimento de senso comum que se aplica a tão fundamental e importante princípio de liderança. Liderança não é o poder e sim a autoridade conquistada com amor, dedicação, respeito, responsabilidade e cuidado com as pessoas. Para liderar é preciso estar disposto a servir. Jesus mudou o mundo sem exercer o poder, mas apenas a influência, servindo ao homens e sacrificando-se por eles.
“Nosso comportamento também influencia nossos pensamentos e sentimentos. Quando nos comprometemos a concentrar atenção, tempo, amor, esforço e outros recursos em alguém ou algo durante um certo tempo, começamos a desenvolver sentimentos pelo objeto de nossa atenção, ou em outras palavras, nos tornamos “ligados” a ele. Isto pode explicar por que adotamos crianças, por que gostamos de bichos de estimação. Desta maneira criamos laços com quem passamos o tempo ou a quem servimos”.
A disposição para a mudança passa pela capacidade dos líderes em demonstrarem com paixão e sentimento todo o seu interesse pelo novo projeto. A palavra mais correta para esclarecer essa relação no livro é o Amor. No entanto para melhor compreender este princípio não podemos ver o amor apenas como sentimento, mas sim como elemento de prática e ação. Amar o projeto e os colaboradores, significa ser tolerante e coerente, ter capacidade de ouvir e de gerenciar de forma firme, porém respeitosa e principalmente pensar e agir sem precipitações e com planejamentos bem definidos.
Na minha vivência com pessoas, entendo que precisamos descobrir que trazemos em essência aspectos de Monge e de Executivo. Entender que por formação, deformação, história pessoal ou influência, escolhemos um ou outro, o que acaba sendo um desperdício, pois precisamos das duas partes da laranja para fazer o suco da vida.
Sábio não é aquele que representa no teatro da vida o papel de Monge ou de Executivo, de Educador ou de Aprendiz, muitas vezes atendendo a uma demanda externa que não é de sua alma ou a um script que não lhe pertence.
Sábio sim é aquele que é generoso com sua dualidade e contradições e que faz um casamento perfeito entre seus opostos, na busca do ser integral.
Há muitas outras lições nas páginas de “O Monge e o Executivo” que se aplicam à vida e ao trabalho.